A gente só sabe que é iludido depois da desilusão.

Amaral Junior
2 min readMar 5, 2020

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Ele chega em casa. Abre a porta e vem direto me dar um beijo, “oi princesa”.
Seu cheiro é tão bom que dá saudades.
Larga a mochila no quarto e o meu coração aperta. Vem logo pra perto de mim cacete.
Ele volta, sem camisa, uma delícia. Senta ao meu lado. Eu chego mais perto. Pergunta como foi meu dia. Típico, todo dia é sempre igual então a resposta é sempre a mesma.
A gente fica ali juntos, assistindo a televisão e contando para o outro apenas o que queremos contar.

A fome bate e pedimos comida. Não sei vocês mas nós não somos o tipo de pessoas que cozinham em plena quarta-feira.

Enquanto isso ele decide tomar banho. Espero me chamar pra ir junto mas não, ele se levanta, pega a toalha pendurada na porta, entra no banheiro e tranca a porta.

Respiro fundo. Controlo a vontade de ir lá e chutar a porta. Passou. Viro a cabeça e vejo o celular dele ali, olhando pra mim.

Uma ansiedade sobe e a vontade de dar uma espiada toma conta.
É certo isso? Não, não vou olhar, estamos bem.
Não tem motivo, eu posso esperar e pedir pra ver depois.

Escuto o chuveiro ligar.

Será que ele deixou o aparelho aqui para mostrar que podemos confiar um no outro? Talvez seja um truque dele esse, me deixar convicta da nossa intimidade com esse tipo de coisa. Talvez ele simplesmente tenha esquecido e esteja desesperado torcendo para eu não olhar nada. O que será que ele esconde, o que será que ele não me conta?

Eu quero olhar, não, não quero olhar.
Quando me dou conta estou digitando a senha para desbloquear. Não temos segredos. 2789. Aperto ok. Meu coração para. Ele mudou a porra da senha.

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